sábado, 8 de junho de 2013

Como cheguei até aqui?

Eu deveria ter uns 12 anos, estava aguardando meu horário para a aula de natação. Folheava uma revista e vi uma foto de um bebê nascendo numa piscina. Achei fantástico, principalmente pela explicação de que aquilo era menos traumático para o bebê. Não me questionei. Aceitei com a confiança que tenho quando alguma coisa me faz sentido. É quando o meu coração fala.
Guardei na memória, para quando engravidasse.
Quando engravidei, já sabia que gostaria de ter um parto normal.
Foi então que a engrenagem da sincronicidade começou a funcionar. Uma colega de trabalho me emprestou um livro: Memórias do Homem de Vidro - Reminiscências de um Obstetra Humanista, autoria de Ricardo Herbert Jones.
Confesso que o título e a capa do livro não me chamaram a atenção. Pensei: Isso deve ser algum livro da treta...
Paguei a leviandade da língua. Era o livro que traria de volta a minha ideia do parto na piscina, e não só.
Mergulhei fundo, talvez até demais. Mas a cada frase que eu lia, a confiança do sentido gritava de alegria!
Cheguei a sonhar que o autor estava em Portugal e me ajudaria no parto.
Gosto da subjetividade com que escreve, com que percebe as mulheres e suas almas. Subjetivo e claro, vai alinhavando os pensamentos, e antes mesmo do final, me vi totalmente seduzida por essa nova visão do parto.
Mas ao mesmo tempo que fiquei maravilhada por ver se materializando algo que tinha dentro de meu inconsciente, tive medo pela realidade que me foi mostrada.
Entre outros esclarecimentos, acabei com a dúvida sobre o meu nascimento e da maioria das pessoas que conhecia. Descobri porque nem minha mãe, nem minhas tias (entre tantas outras mulheres) tiveram um parto normal. Sou filha da epidemia de cesarianas que se instalou no Brasil, e infelizmente se mantém até hoje.

Esta semana, encontrei um texto do Dr. Ricardo Jones aqui. O título era: Medo.
E um clarão de ideias explodiu na minha mente.
Me deixou pasma, por vários motivos.
Pela franqueza e honestidade com que o próprio autor assume seus medos, seus erros e nos conta episódios onde o medo surge.
Pela clareza com que nos mostra de onde vem a arrogância tão fácil de identificarmos nos profissionais que exercem a medicina.
"Sim, eu disse isso, com toda a convicção. Com toda a empáfia, toda petulância e com todo…. o medo. Mas medo de quê? Medo de não ser aceito pelos meus pares, de não ser reconhecido, de que zombassem de mim. Medo de ser diferente e de poder estar errado. Medo das consequências de ver o mundo por um outro prisma. É assim que somos: um bando de medrosos. Eu tinha MEDO, muito medo."
É pelo tiro certeiro que ele dá nesse sentimento tão comum, e na maioria das vezes, tão difícil de identificar e mais difícil ainda de assumir, que eu adoro seus escritos.
Ele finaliza então dizendo sobre uma recomendação que oferece a estudantes que vão conversar com ele:
“Se você tem alguma alternativa, não me dê ouvidos. Saia daqui, tome a pílula azul e acorde amanhã no seu quarto com o livro do Resende todo babado embaixo de sua cara. Mas se quiser tomar a pílula vermelha lembre que ela não tem volta, não há como retornar de um passeio que te leva a uma consciência maior de si mesmo e da sua profissão. Mas só a tome se não houver mais nenhuma escolha, pois no mundo dos que nadam contra a corrente cada braçada é dolorosa e angustiante“.
E essa é uma breve descrição de um dos ramos que me trouxeram ao mundo do parto e da maternidade.

O que não pode escapar daqui é a lembrança de que nadar contra a corrente é mesmo assim, doloroso e angustiante.
Mas só assim, poderemos chegar a nascente (em todos os sentidos), como disse João Paulo II:
"Se você quer encontrar a nascente tem que subir contra a correnteza."


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