quarta-feira, 27 de maio de 2015

coisas para se pensar antes de decidir ter um filho

Eu não li nada do tipo quando decidi com meu marido que iríamos ter um filho.
Acho que isso era uma das poucas certezas que tinha dentro de mim, então não pensei duas vezes. Faria exatamente igual.
Mas pensar sobre certas coisas, hoje sendo mãe e passando pelo que passei, talvez me ajudassem a lidar melhor com algumas situações.
Talvez eu seja meio radical em algumas posições. Eu juro que queria ser mais flexível em algumas coisas, mas vida é processo de aprendizagem né, então pode comentar a vontade a sua opinião e vamos aprender juntos! Por isso, esse não é um post romântico.
Espero que possa te ajudar de alguma maneira também :)

1) Não dá pra fazer ideia do tamanho da transformação que um filho faz na nossa vida. É simplesmente inimaginável. Pelo menos para mim foi. Então se você não é lá muito fã de mudanças... ou se prepara ou deixa essa ideia pra lá.
2) Seu corpo muda. (óbvio hahahah), mas você pode amar, e se achar linda e maravilhosa, ou detestar. Eu adorava estar grávida, me achava linda. Mas conheço pessoas que detestam essa parte. Então, auto-conhecimento e auto-estima na veia. Porque o sexo pode mudar também. Você pode não querer nem saber, ou virar a grávida ninfomaníaca! E a relação com teu companheiro neste aspecto também. Uns podem adorar, outros não. Para isso, sempre vale uma longa conversa onde cada um exponha seu ponto de vista e encontrem uma maneira de viverem em paz neste sentido, seja lá o que for paz para vocês :)
3) Suas prioridades podem mudar. No meu caso mudaram completamente, basta ler alguns textos daqui para você ter uma noção. Mas conheço pessoas que não mudaram em nada. Algumas coisas não tem como escapar, a não ser que você terceirize a criação do seu filho. Mas se for assim, para que ter filho então?
4) Você vai precisar desenvolver novas características ou aprimorar se já tiver.
Paciência: em diversas ocasiões e em diversos formatos. Seu filho não tem culpa que vc teve um dia cansativo no trabalho. Seu filho não tem culpa se você não está feliz com seu trabalho. Seu filho não tem culpa se seu esposo brigou com você. Seu filho não tem culpa se você não compreende o choro dele. Seu filho não tem culpa de nada entendeu?
Pra isso você vai precisar se superar e superar tudo de ruim dentro de você para dar a ele toda a atenção e amor que ele (e todos os seres) merecem. Frases do tipo: "Você está me tirando do sério/ Eu estou perdendo a paciência" não querem dizer nada, pois você é o adulto e se o seu limite de tolerância é baixo, trate de aumená-lo. Seu filho (nem ninguém na verdade) devem pagar pelas tuas frustrações, cansaço, ou qualquer coisa do tipo.
Pense no seu filho como um adulto. Se fosse seu melhor amigo, você falaria com ele aos berros? Bateria para ensinar? Colocaria de castigo? Se você respondeu não, então não faz sentido fazer isso com seu filho também, faz? E não vale dizer que ele é criança e não entende. Se você não percebe a capacidade de entendimento do seu filho ou não consegue se comunicar de uma maneira que ele entenda, então vai estudar. De novo, a culpa não é dele, você é o adulto e está ali para ensinar respeito, tolerância, amor e compaixão. Deixa o celular de lado um pouquinho e vai ler. Para o seu bem, do seu filho e de toda a humanidade.
Mas não vai ler aquelas tretas da adestradora de bebês, por favor! Sugestões de leitura no final do post ;)
5) Se não quer ficar sobrecarregada com os serviços da casa + cuidar do filho, comece a conversar com seu companheiro sobre a divisão das tarefas domésticas e de como vão organizar isso quando o bebê nascer. Acredite, uma louça suja sobre a pia pode ser motivo de discussão, e convém evitar isso quando estão todos tentando se adaptar com o bebê e uma nova rotina e tudo mais.
6) Trabalho. Converse com o seu companheiro sobre isso. Você vai precisar trabalhar? Você quer continuar trabalhando depois que seu bebê nascer? Onde você vai deixar seu filho? Quais as suas opções? Pode ser que você não queria mais trabalhar com o que trabalha no momento, pode ser que você queira ter mais tempo para acompanhar o seu filho, os primeiros passos, as primeiras palavras. E aí, como faz? Vai pensando... Mas lembre-se, existem inúmeras opções, você só precisa decidir o que quer fazer. Dica: procure por empreendedorismo materno :)
7) Rede de apoio. Você tem família por perto pra te ajudar na hora do aperto? Amigos? Alguém com quem contar? Seja para conversar, seja para lavar a louça, seja pra te tirar daquela loucura de troca de fraldas e peito e te mostrar que ainda existe vida depois disso tudo :P Pode parecer bobeira, mas tem horas que só de sair de casa já te faz dar uma espairecida. Vale também conversar com outras mães, mesmo que elas fiquem contando que o bebê delas dorme a noite inteira, já vale pra distrair um pouco.
8) Convicções. É melhor você ter bem definido com seu companheiro como vocês vão fazer as coisas. Desde o parto - onde e como(a escolha é sua, mas saber se ele vai te apoiar ou não e o que vc vai fazer com isso poupa frustrações), amamentação (idem ao parto, o corpo é seu, vc decide), criação, onde o bebê vai dormir, o que vai comer, médico, etc. Saber o que cada um pensa sobre o assunto ajuda bastante, seja para exercitar a compreensão, seja para um apoiar o outro quando os pitaqueiros entrarem em ação.
9) Sua própria infância. Como seus pais te tratavam? Como você se sentia? Você quer fazer da mesma maneira? Quer que seu filho sinta o que vc sentiu? Quer fazer diferente? Não sabe como? Decida e siga. Estude, converse, leia, informe-se! Até onde eu sei essa é a única maneira... Tem um texto bacana aqui para você começar a se aventurar nessa parte :)
10) Tempo: Filhos tomam tempo, não tem como (a não ser que vc terceirize, mas de novo, pra que ter filho então?). E como vc vai lidar com isso? Como vai ser para você abrir mão das horas livres, do salão de beleza, do cinema com o companheiro, do café com as amigas, do passeio no shopping, do happy hour com a turma do trabalho? Uma coisa ou outra vc talvez até consiga manter, mas está preparada para abrir mão de algumas? Seu esposo vai ficar com seu bebê para você ir no salão? Acha que sim? Dá uma confirmada antes, não custa! Sua mãe vai topar ficar com o bebê na sexta a noite para vc curtir um jantar romântico? Pergunta lá... É bom ir conversando sobre essas coisas, por mais que pareça algo distante da tua realidade no momento, com filhos, planejamento é a palavra de ordem. Te poupa muito stress!
11) Birras e educação. Seu filho vai fazer uma birra em local público pelo menos uma vez na vida. E aí, já pensou em como vai lidar com isso? E não vai achando que isso é coisa de criança mimada, porque não é. Birras são a maneira da criança manifestar sua incapacidade de lidar com a situação naquele momento, e isso é ciência, é formação cerebral em desenvolvimento. Você achar que é manha e que ela precisa de limites não vai resolver... mas isso você só vai saber se tentar entender e se conectar com seu filho. Então, você está disposta a investir tempo nisso? Ou vai ser mais fácil ameçar bater, chantagear? Vai pensando...
12) Sua sanidade mental. Bom, pensar sobre isso pode parecer engraçado, mas na hora que seu filho estiver berrando desesperadamente, seu companheiro te olhando com aquela cara: faz ele parar de chorar, seu vizinho interfonando porque são 3 da manhã e ele precisa dormir e você totalmente perdida sem saber o que fazer... se você não tiver o tal do "sangue-frio" para analisar a situação tranquilamente e ver que seu bebê não quer ficar no berço sozinho e sim no aconchego do seu colo e você dar isso a ele, a coisa complica... Existe muita pressão com crianças chorando, principalmente quando elas não dizem o que sentem. É uma sensação de impotência pois você fica sem saber o que fazer. Para isso você precisa estar tranquila com a situação, e em paz com suas convicções. E claro, confiante de que está fazendo o que considera melhor para o seu filho. Óbvio que falando assim parece super fácil, mas a prática tem os seus percalços e você precisa estar preparada para eles também. São normais, acontecem, não se culpe! Dúvidas brotam na nossa cabeça de lugares que sequer imaginávamos existir... e aceite, é normal! Tenha em mente coisas que te fazem bem e pense em como fazer para poder usufruir delas quando a coisa apertar. Uma vez li que para uma mulher era essencial acordar e poder tomar um banho bem relaxada. Ela combinou com o companheiro que isso era um momento dela e era necessário, então eles se organizaram para ela poder fazer isso. Entende o que quer o dizer?
13) Já mencionei a divisão das tarefas de casa e cuidados com o bebê né?
14) Onde o bebê vai dormir? No berço, na cama com vocês, no carrinho? Eu comprei berço quando o Dudu nasceu, hoje se tivesse outro filho não gastaria dinheiro com isso. A cama compartilhada me facilitou muito a amamentação, me deixou dormir muito mais do que se tivesse que ficar levantando para pegar filho no berço, amamentando, fazendo dormir e colocando no berço para dali a 15 minutos ele chorar e eu ter que levantar de novo. E isso tem uma explicação: bebês não foram feitos para dormirem sozinhos. Informe-se :)
15) Fraldas. Descartáveis não são a única opção! As fraldas de pano modernas são ótimas e fazem um bem danado para a natureza :) E tem gente que até nem usa fralda, acredite (procure por Elimination Comunication, ou leia um pouco mais aqui)
16) Como você vai carregar o bebê. Existem outras opções além de carrinho e canguru! Já conhece o sling? É fisiológico, os bebês amam e ficam muito mais tranquilos!
17) Seu filho pode nascer com algum problema. Calma, não é sentença de morte! Bom, de certa forma vai ser, um processo de morte das expectativas. O fato é que essa possibilidade existe e seria legal se vc conseguisse pensar sobre ela. Não pensar para desistir, mas pensar para aceitar caso aconteça. Maternidade também é aceitação. Aceitar que não temos controle de tudo, que não somos super-heroínas, que independente de como criamos, eles são livres e podem seguir um caminho que não concordamos, aceitar que irão nos surpreender, aceitar que vamos chorar na apresentação da escola, aceitar de que vai passar muito rápido e que o que vai valer a pena foram os momentos que vocês passaram juntos.

Que eu me lembre, por enquanto, é isso. Sempre que surgirem outras coisas eu vou atualizando aqui!
E aí, o que achou? :)

Sugestão de leitura:
Maternidade e o encontro com a própria sombra - Laura Gutman
O Poder do Discurso Materno - Laura Gutman
Mulheres visíveis, mães invisíveis - Laura Gutman (este é um apanhado com vários textos da autora. Vale a pena para quem quer ter uma noção geral do que ela diz)
Besame mucho - Como criar seus filhos com amor - Carlos González (é difícil encontrar para vender, eu só consegui o pdf pela internet)
O livro da maternagem - Dra. Relva
Educar sem violência: criando filhos sem palmada. Ligia Moreiras Sena e Andréia Mortensen
Soluções para noites sem choro - Elizabeth Pantley
Memórias do homem de vidro - Ricardo Jones
Entre as orelhas. Histórias de Parto - Ricardo Jones

Nessa loja virtual tem vários outros títulos interessantes e que valem muito a pena!

Existem depois um sem fim de blogs, artigos, páginas... Cabe a você decidir quão fundo você quer ir nesse novo mundo da maternidade ou da felicidade :)



Você pode ter estranhado eu não ter falado do lado "bom" disso tudo, mas minha intenção neste texto não foi essa. Até porque eu não considero todas essas coisas "ruins". Sou grata por cada momento e situação que passei pois foram oportunidades únicas de aprendizado que eu jamais teria se não fosse mãe <3  E também porque não sou muito boa em dizer sobre o indizível e o infinito...
Confiscado ;)





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